No segundo semestre de 2023, mais de 400 alunos do ensino fundamental de Juquitiba (SP) puderam se reconectar com a natureza em meio à Mata Atlântica, a apenas 70 km de São Paulo
Uma vivência de conhecimento e conexão com a natureza em meio à exuberante Mata Atlântica. Na entrada da primavera, alunos da rede municipal de ensino ganharam um “banho de floresta” em Juquitiba, uma das cidades com maior cobertura vegetal do Estado de São Paulo, a apenas 70 km da capital.
Coordenado pelo Instituto Terra Luminous (ITL) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura, o programa de Ecoeducação do ITL conecta as novas gerações a um dos biomas com maior biodiversidade do planeta, num trecho preservado de Mata Atlântica bem na região central do município.
O projeto começou junto com a primavera e levou mais de 400 estudantes do 4º ao 9º ano do ensino fundamental, além de 50 educadores, ao recém-revitalizado Parque Ecológico de Juquitiba, em uma atividade que une florestaterapia e educação ambiental.
Damaris da Silva Pinto, de 11 anos, diz que vai levar da visita uma lição importante: “Eu amei toda essa natureza, mas para preservá-la é muito importante que as pessoas parem de jogar lixo na água e também no chão”.
As visitas foram viabilizadas com o apoio do setor de comércio da cidade de Juquitiba, principalmente do Supermercado Frigoyama, Kazil Gás, Bueno Madeira e Construção, AgroAM, restaurante TomoTomo e restaurante Rosalves.
O Parque Ecológico se situa às margens do Rio São Lourenço. Ele integra um dos conjuntos de mananciais hídricos mais importantes para o abastecimento de água do Estado. O Sistema São Lourenço, da Sabesp, é a principal fonte de abastecimento para 2,5 milhões de habitantes das regiões sul e sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo.
“Para ter água boa é preciso preservar a floresta, mas este é apenas um dos inúmeros benefícios que as crianças conseguem perceber ao percorrer uma trilha entre as árvores, aguçando os sentidos e dando atenção a estímulos pouco comuns no seu dia a dia”, explica Glenn Suba, diretor executivo do ITL.
Mostrar a série de benefícios que a floresta em pé oferece aos seres humanos – os chamados serviços ecossistêmicos – é um dos principais objetivos do programa de educação ambiental do ITL. Ele começou em 2022, junto aos alunos de uma escola pública vizinha, e a partir de 2023 foi estendido a toda a rede municipal de ensino. “Ao visitar a floresta as crianças se encantam e conseguem entender, na prática, a importância de preservar a natureza para garantir coisas tão fundamentais para manter a vida, como o ar puro, a água limpa e um clima mais previsível”, diz Glenn.
Sistematizado no Japão a partir dos anos 80 e adotado como uma forma efetiva de redução do estresse, o banho de floresta é uma das práticas de florestaterapia. Oferece um alívio para o excesso de distrações da vida urbana. Isto porque ele situa os participantes em meio à sutil diversidade de estímulos e formas de vida que se apresentam num passeio pela mata. Intercalando momentos de orientação e silêncio, a prática permite uma experiência de “reconexão” com a natureza. Neste momento os participantes descobrem novos significados para a relação com o ambiente que os cerca, com outros seres vivos e também com seus próprios sentimentos e emoções.
Para os educadores, além da florestaterapia e da aula ao ar livre sobre a importância das florestas para sustentar a vida humana, a experiência está sendo um laboratório na sua formação como educadores ambientais. A missão destes profissionais é ajudar a preservar a Mata Atlântica em meio a um dos trechos mais ameaçados deste bioma.
Um deles é Nika Machado, de 53 anos, professora da rede pública há mais de 30, que todos os anos leva seus alunos para uma visita ao parque. “Educação ambiental não é preparar para o futuro, é para o agora. É urgente para a humanidade entender a relação entre consumo, descarte de lixo e sustentabilidade.”
Juquitiba possui 100% de seu território em área de mananciais protegida pela legislação estadual. A região também é considerada uma Reserva da Biosfera da Unesco e é habitat de espécies ameaçadas, como a onça-pintada, a anta e a palmeira-juçara.
Contudo, embora possua um dos maiores índices de cobertura vegetal de São Paulo, Juquitiba fica abaixo da média estadual em Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado. A cidade oferece poucas oportunidades de renda e grande parcela da população em situação de vulnerabilidade. O rápido crescimento urbano, impulsionado pela expansão imobiliária da Grande São Paulo, é uma ameaça às suas áreas verdes, devido ao parcelamento de terras, ocupações irregulares, desmatamento e exploração predatória dos recursos naturais.
Estas ameaças limitam a capacidade do município de assumir sua vocação natural de prestadora de serviços ecossistêmicos, como o fornecimento de água, a regulação do clima e o turismo de natureza. “O ecoturismo, em particular, tem um enorme potencial para alavancar o desenvolvimento socioeconômico desta região e frear o modelo vigente de exploração imobiliária e dos recursos naturais”, explica Rafael Oliveira, coordenador do programa de Ecoeducação do ITL. “É para cultivar esta visão de futuro entre as gerações mais novas que o projeto nasceu. A proteção das florestas depende delas”.
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