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Fabi Maia fala sobre poder compartilhado

Em 2011, quando ouvi pela primeira vez o termo “Organizações de Centro Vazio”, me apaixonei  — racionalmente — pelo conceito, pelo nome, pelas crenças que sustentam essa abordagem. Na época, já estava mergulhada na pesquisa da Comunicação Não-Violenta, começando a estudar Dragon Dreaming e, na sequência, vinha o salto com a Sociocracia. Apesar de tudo isso, devo admitir:

Empatizo com quem não quer (ou não consegue) abrir mão do poder. Isso pode te fazer melhor – mas dói.

Na época, estava fundando uma comunidade e centro de pesquisa focado na preservação ambiental e regeneração social chamada Terra Luminous e, no começo da operação, eu era o centro cheíssimo da organização. Vinha de duas décadas de consultoria, coaching e psicoterapia, dizendo para os outros como serem melhores líderes. Seguiram-se alguns anos em que eu comandava o espetáculo do negócio, cuidando da gestão geral, finanças (argh!), recepção de hóspedes, cardápio, comercial, gestão de pessoas e, muitas vezes, como facilitadora do retiro. One-Woman-Show!

Estava infeliz, ainda que vivendo o sonho tão querido e tão suado de conquistar. Tinha funcionários e, por mais que fizesse um baita esforço para empoderar os outros e compartilhar poder, ainda vivia em uma sofrida estrutura de comando-controle com pitadas coloridas de autogestão (mera ilusão).

Em 2015, com apoio do Rafael Oliveira, que tinha feito o curso de Sociocracia aqui no Luminous com a Gina Price e estava se aproximando do projeto desde o início, comecei a rascunhar como seria a nossa governança dinâmica, mas sem muito empenho na implantação. Eu ainda estava no centro e o Rafa, envolvido com outros projetos.

No ano seguinte, com a formação de uma comunidade intencional já com cinco integrantes vivendo no Luminous, incluindo o Rafael, e com dedicação quase integral de todos, é que o ritmo acelerou e viramos a chave para sermos uma organização sociocrática, especialmente depois do curso de aprofundamento com James Priest e Lilli David.

Bom, tudo isso é o contexto, mas o que quero compartilhar aqui é a dor que senti ao abrir mão do poder

Parece tão romântico anunciar por aí como é lindo compartilhar poder, que a gestão distribuída é a evolução, que no paradigma da abundância vivemos sem comando e controle, com equivalência nas vozes e assim queremos somente decisões que vibrem no ganha-ganha.

Quem me conhece sabe bem que esse é meu discurso, que realmente acredito nisso tudo. No entanto, quando estava lá no centro do poder, com a autoridade para decidir tudo, com os privilégios de quem comanda e, de repente, virando a chave de um modelo de design organizacional para outro, eu me sentia “perdendo” o direito de dar a primeira e a última palavra. Ai, ai, ai… que dor!

Senti medo, muito medo de não ser mais escutada. Não tinha segurança que minhas preferências, valores e opiniões seriam respeiados

E aí foi se dando uma cura ancestral em mim. Neta de coronel da aeronáutica, filha de engenheiro, empresário e CEO, acessei um aspecto da minha sombra bem pitoresco. Me dei conta de que não tinha segurança de que minha voz tinha valor. Assim, ao longo da vida fui me apoiando no poder estrutural, pois sendo “poderosa” com certeza seria ouvida e os outros fariam aquilo que eu quisesse.

Acesso nesse momento a “criança ferida e carente” que me habita. Percebo, nesse processo dolorido, que acreditava que para ser respeitada as pessoas precisariam ter medo de mim, do meu poder e de como eu o usava. Com as sutis (pero no mucho) punições e recompensas do dia-a-dia, alimentava ainda mais essa sensação.

Há cerca de sete anos, quando ouvi pela primeira vez o termo “Organizações de Centro Vazio”, me apaixonei  — racionalmente — pelo conceito, pelo nome, pelas crenças que sustentam essa abordagem. Na época, já estava mergulhada na pesquisa da Comunicação Não-Violenta, começando a estudar Dragon Dreaming e, na sequência, vinha o salto com a Sociocracia. Apesar de tudo isso, devo admitir:

Empatizo com quem não quer (ou não consegue) abrir mão do poder. Isso pode te fazer melhor – mas dói.


Artigo publicado no Projeto Draft em 08/06/18 por Fabi Maia.

Leia a íntegra em: https://projetodraft.com/empatizo-com-quem-nao-quer-ou-nao-consegue-abrir-mao-do-poder-e-algo-que-doi-e-transforma/

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