Esse tema me instiga há décadas. Porque será que detestamos as relações que nossos pais, tios, avós, vizinhos tiveram e de alguma forma reproduzimos os modelos, ou ainda estamos tão longe de viver a vida a dois como sonhamos! Será que a gente ousa sonhar com a relação que pode ser tão nutritiva, apoiadora, relaxada e apaixonada, livre e comprometida, poética e realista nos cuidados com o cotidiano?
Ainda vejo duas crianças em corpos de adultos emaranhados nos jogos de ganha-perde-ganha, vivendo de migalhas emocionais, de meias-verdades, em relacionamentos que transbordam culpa, vergonha e medo. Vejo pessoas desempenhando papeis.
Relações que mais reclamam do que celebram. Vejo pessoas na dúvida se foram claras, se a mensagem que chegou está perto de ser aquela que gostaria que o outro escutasse, mas porque será que não checamos com o outro o que escutou? Vamos dormir com esse barulho todo na cabeça, pressupondo que fomos escutados, mas com uma pulga gritando atrás da orelha que parece que não!
E por medo do conflito, nos afundamos nessa escuridão temida.
Cadê a conexão numa relação íntima?
Então, vamos alargar a verdade nas relações, abusar da transparência e ver onde isso vai dar. Escutar a si mesmo. Escutar o outro, só uma “vezinha”! Buscar apoio da rede quando a conexão cai, inconformados em aceitar a distância desumanizante. Podemos nos lambuzar num banquete de cores e sabores emocionais nessa rica possibilidade da experiência afetiva-íntima, de casal, tecendo as cordas pra gente dançar juntos. E nús, nos re-conhecemos mais perto da nossa humanidade compartilhada e da nossa individualidade solitária, nos encontramos por detrás dos papeis sociais. Em companhia e na parceria crescemos, servimos de espelho um para o outro e essa proximidade, assustadora para muitos, é uma trilha que requer coragem.
Fabi Maia